- Bom dia, disse o príncipezinho.
- Bom dia, disse o vendedor.
Era um vendedor de pílulas aperfeiçoadas que aplacavam a sede. Toma-se uma por semana e não é mais preciso beber.
- Por que vendes isso? - Perguntou o príncipezinho.
- É uma grande economia de tempo - disse o vendedor - Os peritos calcularam. A gente ganha cinquenta e três minutos por semana.
- E que se faz, então, com os cinquenta e três minutos?
- O que a gente quiser...
- Eu... - pensou o principezinho - se tivesse cinquenta e três minutos para gastar, eu iria caminhando passo a passo, mãos no bolso, na direção de uma fonte...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... Cativa-me! - Disse ela.
- Bem quisera - disse o príncipezinho - mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou - disse a raposa - Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? - Perguntou o príncipezinho.
- É preciso ser paciente - respondeu a raposa - Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas, cada dia, te sentará mais perto...
No dia seguinte o príncipezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora- disse a raposa - Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta a agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.
- Que é um rito? - Perguntou o príncipezinho.
- É uma coisa muito esquecida também - disse a raposa- É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias !
Assim o príncipezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou à hora da partida, a raposa disse :
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua - disse o príncipezinho - eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis. - disse a raposa.
- Mas tu vais chorar!- Disse o príncipezinho.
- Vou. - disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro - disse a raposa - por causa da cor do trigo..."
- Aonde vai, jovem passageiro?
- Ao extremo oriente.
- Pescar pérolas nos mares da Índia ?
- Não me interessam pérolas de moluscos.
- Em busca de aventuras?
- Tampouco.
- Em viagem de recreio?
- Vou para a Ilha dos Leprosos.
- Dos leprosos, que horror!
- Nem tanto...
- E são muitos?
- Uns quinhentos...
- E quando pretende regressar?
- Nunca.
- Que vida infernal!... E é bem pago?
- Deus o sabe...
- Como? Não ganha?
- Espero ter o necessário para viver e trabalhar...
- Só?
- É quanto basta.
- E sua família?
- Deixei minha família por amor a essa família de infelizes...
- Não compreendo essa filosofia...
- Parece que sou louco, não é?
- Isso não, mas... desculpe... o senhor deve ter sofrido algum desgosto profundo.
- Não me consta, não sou derrotista nem misantropo. Creio na vida.
- E por que abandona o conforto da sociedade?
- Vou à conquista dum mundo mais belo e feliz...
- Quimeras!
- Realidades espirituais!
- Loucuras!
- Sabedoria divina!
- Paradoxos!
- Verdade suprema! Mais belo é dar que receber... É minha idéia, é meu ideal.
- Mistérios!...
- Tem razão. O mais belo de todos os mistérios é este: imolar-se na ara dum grande ideal. Ser apóstolo – e eu quero ser discípulo do Grande Mestre...